sábado, 30 de abril de 2011

Pensei ali, onde estava Estamira e seu mundo de lixo? Gostaria de conhecê-la e pregar-lhe um abraço fétido de perfume. Num imenso depósito batizado de “lixão”, o que seriam odores de perfume?

Silêncio

Ah! Já fora silencioso e bucólico o bairro do Jardim Botânico. Apesar de uma desenfreada e inevitável tendência a pólo gastronômico, sofrem os que como eu, trocam madrugadas pelo dia, na tentativa de burlar as normas, e “reproduzir” silêncio.

Não bastassem guardadores de carro garantindo aos berros vagas, temos o prazer de contemplar o mais novo exercício de cidadania. Bonificar o funcionário público, com indeferível direito, de enquanto exposto ao exercício da profissão, ou melhor, construção, ouvir aos berros qualquer estação, ou transmissão... Ou qualquer hora!

O vigia noturno ensaiava um passinho e acompanhava as últimas tendências eletrônicas através das caixas de som do carro de um carinha dependurado no alto de um poste. Enquanto remendava um sinal e cumpria sua função, chacoalhava a cabeçinha pequena. Passarinho canta, não aumenta o volume. Inventaram uma porra pequenininha chamada ipod e tem outra das antigas chamada radinho de pilha. Quem sabe do Maracanã... Enquanto isso, quase todo dia, uma nova batida, debaixo; do mesmo poste. A pressa de se viver com pressa, sabe?

À noite reformas num banco que é único. E nenhum vizinho faturou com a lei do silêncio! Meses! Do privado ao público, a privada novamente. Mania essa da classe mediana em se calar. Notas de jornal quase nunca dão endereços.

E beberam soda cáustica certa vez na Rua Maria Angélica, numa filial de um restaurante japonês caríssimo... Partindo da premissa de que nomes não devem ser revelados, dou uma pista e apenas garanto que aqueles não andavam, “na Kombi”, mas de importados somente! Era garrafinha de água mineral com rótulo francês.

A vítima, um sinhozinho, só largou o frasco na mão da polícia e dentro do hospital, queimado da boca ao umbigo, por dentro e por fora. Era advogado, dizem. Sabia das regras! Contam ainda que a geba, foi tão grande, que o japoronga, ou o dono, se picou para a matriz da Tóquio brasileira chamada São Paulo, ingressando posteriormente na máfia local. É isso aí... Tomou nos cru! Era de peixes, comentaram... Sensível paca...

Maratona //

Penso no maratonista Vanderlei Cordeiro e no atleta italiano que levou a medalha de ouro daquelas olimpíadas. Se tivesse humildade, e reconhecesse a interferência de um padre maluco, como prova cabal de que seria praticamente impossível parar o brasileiro. E passasse o título dourado para o nosso campeão, em pleno pódio, a revelia que fosse... Ah! Que espetacular jogada de marketing. Acho interessante o termo, antes que caia em desuso e se invente outra para definir a mesmíssima coisa. Ou até, aquela nova, que agregue funções como pretexto capitalista para fomentar desemprego. Desculpe: gerar renda...

Mas se o cara. Ah! Se o cara tivesse feito isso, surgiriam entrevistas, outros interesses jornalísticos. É matéria, não? Aonde estava o empresário? Fora a insegurança dele mesmo, cuja dimensão deveria ser muito maior! Seria este o perfil do nosso algoz? Mas o que é do homem o bicho não... Lembra! Não faltaram testemunhas...

Tanto isso motivaria patrocínios, quanto projetaria informações sobre um alguém, que no universo poli esportivo do cidadão comum do mundo afora, é somente um italiano. Isso, porque obrigatoriamente, são içadas as bandeiras de acordo com a colocação. Por ironia o país cujo contorno por décadas – e todas que virão – será comparado a uma bota... Que pisa, anda, corre...

Qual era o nosso assunto? Esse fato delirante me leva a crer na pena capital forjada pelas regras da competição. Se há regras! Voltemos a uma nova data talvez?

Não seria um atleta a bandeira viva, e suas reações o retrato de uma nação? Ou todo o planeta mera quilometragem? Ou o porre do reveillon se prolongou e ainda estou viajando? Cacete! Fala o nome ddaquele sujeito italiano. Fala? Morreria eu, de vergonha, se fosse conterrâneo. Ah! Cavaria a cabeça no chão feito avestruz! Quanto ao padre, tratando-se de Brasil, deve estar doido com o nome amarrado nuns quaquilhões de encruzilhadas.

E que um renomado colunista me perdoe, mas sob a batuta do seu particular linguajar, ousaria dizer que, enquanto isso, o meu, o seu, o nosso Vanderlei. Campeão dos pés descalços que treinava no barro batido de terra seca, sem tênis, chorava com emoção de vencedor.

E danem-se as medalhas! Lágrimas derramadas em nome de um país que muito pouco – mas muito pouco mesmo – faz pelos seus. Esportistas, artistas, cidadãos... Ali não havia miséria ou tiro! Um homem, num breve instante, provocando o efeito carnaval. Pátria minha desgarrada, só falta aproveitar o chororô e afogar sua plenitude. E de quebra todo o resto.

Vai nessa Vanderlei. Choramos juntos, todos nós, pelo menos naquela vez... De raiva ou orgulho, ou alegria... Sei lá... Suicídio intelectual coletivo...

terça-feira, 26 de abril de 2011

Sobre a cultura Persa... Porque me pedem, reproduzo novamente TXs sobre essa cultura. E peço licença porque são muitos mil anos senhores... E senhoras... As Ervas...

A Senhora das Ervas

... Sua função era varrer e limpar as ervas, que seriam usadas; e manuseadas para as refeições. Praticamente fazia isso todos os dias. Eram horas para limpar adequadamente cada tipo...

Sobre sua idade, nem ela mesmo sabia. Respondia pelo nome simples de Nanê. Dizia ter visto a troca de cinco reis. Calculava-se sua idade em mais de cem anos. Só na família somavam cinqüenta deles. Mas ali o tempo é outro, e suas considerações também. Cuidara dos quatro filhos da primeira esposa e dos quatro, da segunda...

... E o verbo empregado naquele lugar tinha o peso do conhecimento, da cultura falada, repassada; dos mais velhos aqueles que a carregarão; como toda tribo, toda reminiscência, que não foi corroída. Só entende isso país de história velha... Achava que ela dizia isso...

... Durante todos aqueles anos, não havia aprendido o farsi, que é o idioma oficial do Irã. Quando chegara a capital com a família, era analfabeta. Nascera possivelmente em Tabriz, ao norte; fronteira com a Turquia. Não sabia das letras. A comunicação mesclava o dialeto à língua e gestos; E era assim que organizava a casa...

x

As ervas eram limpas uma a uma, sem água, somente com as mãos. Processos semelhantes aos cubos de açúcar. A preocupação com dimensões pré-definidas e coerentes no todo; de forma a facilitar o cozimento ou a ingestão dos alimentos crus. Passado o primeiro processo, seriam lavadas e secas num outro enorme pano de algodão puro, para absorver a água natural.

E eram muitas as quantidades, e o trabalho diário se prolongava em horas seguidas. Seriam utilizadas no almoço do dia seguinte, frescas e cozidas...

x

Pão e Queijo de Cabra

Durante as refeições acompanhava o pão iraniano e queijo de cabra. Numa mesa posta, tradicional, este ritual define a família e há milênios é repetido; até hoje, da mesma forma...

x

Frutinhas

... E a titulação da senhora agregava outros cargos culinários. Quando chegasse o outono, Nanê limparia todas as frutinhas da estação; cerejas doces e azedas, marmelo, romã. As cascas por vezes também tinham sua função. A da laranja, por exemplo... O intuito era a maior colheita de tudo para o preparo das geléias que seriam consumidas no inverno, ou em uma das muitas receitas de arroz.

x

Tâmaras

... Vinham em cachos ainda amarelas. Eram penduradas próximo à porta de entrada da cozinha para amadurecer...

...Proveniente de uma espécie de palmeira, os frutos levavam semanas para madurar, e durante o inverno, substituiriam o açúcar durante o chá.